sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Cães Letrados, de Cristóvão de Aguiar, apresentação de Carlos Alberto Machado, na Câmara Municipal das Lajes do Pico. 17 de Dezembro, pelas 21 horas.

CRISTÓVÃO DE AGUIAR é um dos grandes nomes da literatura açoriana de todos os tempos. Em 2006, teve homenagem nacional por ocasião da passagem dos seus 40 anos de vida literária.Mãos Vazias, poesia, é a sua primeira obra, saída em 1965. Contudo, é na prosa – romance, conto e diarística – que mais se tem distinguido. A sua trilogia romanesca Raiz Comovida valeu-lhe o prémio Ricardo Malheiros, da Academia de Ciências. Relação de Bordo, cuja trilogia foi completada em 2004, foi distinguida com o Grande Prémio de Literatura Biográfica da Associação Portuguesa de Escritores, e o livro de contos Trasfega recebeu o Prémio Nacional Miguel Torga. É ainda autor de muitas outras obras, como O Braço Tatuado (sobre a guerra colonial), Ciclone de Setembro, Grito em Chamas, Passageiro em Trânsito, Marilha, Com Paulo Quintela à Mesa da Tertúlia e A Descoberta da Cidade.
SINOPSE:
Um magnífico livro de histórias sobre cães.
Histórias comoventes, onde aprendemos coisas extraordinárias destes nossos amigos.
Por exemplo: sempre que quisermos um cão idóneo devemos adopta-lo entre a família dos vadios de primeira geração - só estes possuem capacidade para serem amigos de verdade e dar tudo pelo dono que o escolheu.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

AMANHÃ 27 DE NOVEMBRO-Guiné 63/74 - P3363: Memórias literárias da Guerra Colonial (9): Braço Tatuado, de Cristóvão de Aguiar (José Martins)

"No final da leitura do livro Braço Tatuado ficou-me na memória a frase atribuída, na página 20(1ª edição na D. Quixote) ao homem grande de Jabicunda, quando, o Alferes Miliciano de Infantaria Arquelau de Mendonça, insistia para ser tratado por alferes: “…alfero é um, alferes é manga deles, nosso alfero...”
Na realidade, e para mim, o Cristóvão Aguiar é alfero, é um óptimo contador de histórias que, com base numa unidade, acaba por englobar as estórias que fazem parte da história de um povo."
José Martins





Braço Tatuado

Conferência de Cristóvão de Aguiar, a realizar na Biblioteca-Museu República e Resistência / Espaço Grandella, na próxima 5ª feira, 27 de Novembro de 2008, às 19h00.__________
Foi um acaso que me trouxe ao conhecimento o livro Braço Tatuado, quando, em 14 de Fevereiro de 2008, navegava na net em busca de uma outra publicação. Tudo ficou decidido nesse momento. Pouco tempo depois era retirado da estante da Livraria Bertrand no Loures-Shoping, o livro que, quase de imediato, comecei a ler.

Título: Braço Tatuado - Retalhos da Guerra Colonial
Editora: Dom Quixote, Lisboa
Páginas: 136
Colecção: Autores de Língua Portugues
Edição: 2008
Preço com IVA: 12,00 €

Na capa, no texto biográfico, é referida uma passagem por Leiria, como professor. Ora foi nessa cidade que nasci e iniciei os meus estudos. Brinquei e passeei no Jardim Público, bebi água na Fonte Grande, tomei café no Arcádia, comi Brisas do Lis… Bons tempos, de jovem e estudante.

No livro é relatada uma passagem por Nova Lamego (Gabú Sara), onde também estive como elemento da Companhia dos Gatos Pretos [CCaç 5], que mais tarde, em Agosto de 1968, rumou a Canjadude onde permaneceu até à sua extinção, em Agosto de 1974. Esta companhia era herdeira da 3ª Companhia de Caçadores Indígenas, e teve o seu quartel no local onde, com a criação do Sector Leste, ficou instalada a sede do Batalhão.

No meu livro, não editado, que intitulei de Refrega, há algumas impressões pessoais e relatos sobre estas duas localidades terra.

Na leitura do livro de Cristóvão Aguiar, estranhei o número “666”, que, como diz o autor, está em Apocalipse (13,18). Nos elementos de que dispunha e que de imediato consultei, esse número não pertence a nenhuma das unidades que serviram na Guiné.

Consultando o 8º Volume – Tomo II da CECA – Fichas História das Unidades – Guiné (página 342) e com base nas datas constantes do texto, assim como dos locais onde se desenrolaram as acções, foi fácil localizar a “Companhia nº 666” [texto em negrito].

Mas não me contentei com hipóteses. No dia 26/02/08, desloquei-me ao Arquivo Histórico Militar, em Lisboa, e pude ler e tomar notas (caixa nº 70 – 2ª Divisão/4ª Secção), com a calma que o pouco tempo de que dispunha me permitiu, da história da “666” [texto em itálico].

Companhia de Caçadores nº 800

Unidade Mobilizadora: RI 15 – Tomar

A subunidade foi formada com data de 1 de Janeiro de 1965, conforme Ordem de Serviço nº 2 de 4 de Janeiro de 1965 do Regimento de Infantaria 15 de Tomar. Destinava-se, inicialmente, ao arquipélago de Cabo Verde, tendo a partida prevista para a data de 13 de Abril de 1965.

Comandante: Capitão Inf Carlos Alberto Gonçalves da Costa, sustituído em Setembro de 1965 pelo Capitão Miliciano de Cavalaria António Tavares Martins (que tinha vindo da CCav 489/Bcav 490. Nota do editor vb).

Constituíam o quadro de Oficiais subalternos os Alferes Milicianos:

João Belchurrinho Baptista
Luís Cristóvão Dias Aguiar
João Faria Cortesão Casimiro e
João Baptista Alves

Partida: Embarque em 17 de Abril de 1965; desembarque em 23 de Abril de 1965
Regresso: Embarque em 20 de Janeiro de 1967.

Alterado o destino, a subunidade partiu do cais de Alcântara, em Lisboa, a bordo do N/M Mafalda, desembarcando em Bissau em 23 de Abril de 1967.

Síntese da Actividade Operacional

Foi-lhe inicialmente atribuída a missão de subunidade de intervenção e reserva do Comando-Chefe, tendo colaborado com a unidade de guarnição de Bissau na segurança e protecção das instalações e das populações da área e tomado parte em operações na região de Jugudul e Olom, de 10 a 24 de Maio de 1965, em reforço do BArt 645.

Maio de 1965

Dia 17 – Operação na região de Olom
Dia 21 - Operação Perdigueiro – Durante uma patrulha de combate na área de Encheia, sob o comando do Capitão de Infantaria Gonçalves da Costa, este foi ferido no tórax e pescoço com estilhaços de uma granada de mão, assim como os soldados José Francisco Pereira da Silva (nº 3788/64) e Custódio José Caetano (nº 54/64 da CArt 732).

Em 28 de Maio de 1965, como subunidade de reserva do Comando-Chefe, foi colocada em Contuboel em reforço do BCav 757, em substituição da CCaç 702, com vista à execução de patrulhamentos, reconhecimentos, protecção e segurança das populações da área, guarnecendo com um pelotão a povoação de Sonaco. A partir de 15 de Julho de 1965, cedeu ainda um pelotão ao BCav 705, o qual passou a guarnecer a povoação de Dunane, onde se manteve até 1 de Abril de 1966.

Maio de 1965

Dia 23 – Partida de Bissau para Contuboel.
Dia 29 – Chegada a Contuboel

Junho de 1965

Dia 27 – Operação Jagudi

Julho de 1965

Dia 08 - Partida de 1 Grupo de Combate para Dunane.

Agosto de 1965

Dia 10 - Operação Onça

Em 22 de Novembro de 1965, deixou de ser subunidade de intervenção do sector e assumiu a responsabilidade do subsector de Contuboel, então criado na zona de acção do BCav 757, mantendo um pelotão do antecedente destacado em Sonaco, até 1 de Novembro de 1966 e destacando outros pelotões para guarnecer as povoações de Sara Bacar, a partir de 10Maio de 1966 e de Sumbundo, a partir de 3 de Novembro de 19 de 66.

Novembro de 1965

Dia 23 - A Companhia deixou a intervenção às ordens do Comando-Chefe.

Dezembro de 1965

Dia 17 - Operação Zig-zag

Fevereiro de 1966

Dia 26- Operação Jota

Março de 1966

Dia 11 - Operação Jota II

Abril de 1966

Dia 04 – A Companhia deixou um grupo de combate em Dunane e passou a ocupar o destacamento de Sare Bacar

Dia 16 - Operação Jota III

Maio de 1966

Dia 07- Operação Intriga
Dia 10 - Operação Ibis
Dia 25 - Operação Ianque
Dia 29 - Destaca um grupo de combate para reforçar o sector de Piche

Junho de 1966

Dia 04 - Cessa o reforço ao sector de Piche
Dia 06 - Operação Isco
Dia 15 - Operação Ivan
Dia 21 - Operação Intervenção
Dia 30 - Operação Interesse

Julho de 1966

Dia 07 - Operação Insurrecto
Dia 21 – Inauguração da ponte de Contuboel sobre o rio Geba
Dia 27 – Operação Intelecto

Agosto de 1966

Dia 03 – Operação Imune
Dia 11 – Operação Intemerato
Dia 23 – Operação Japão

Setembro de 1966

Dia 05 – Operação Interlúdio
Dia 22 – Operação Intervalo

Outubro de 1966

Dia 09 – Operação Intimação
Dia 16 – Operação Impar
Dia 21 – Operação Introito

Novembro de 1966

Dia 02 – 1 grupo de combate ocupou a tabanca de Sumbundo, atacada pelo IN no dia anterior.
Dia 17 – Operação Istambul
Dia 30 – Chegada, de Contuboel, da CCaç 1588, que veio reforçar o sector

Dezembro de 1966

Dia 19 – O IN flagelou com metralhadoras e espingardas automáticas, pistolas e granadas de mão, uma força de CCaç 802, que dava protecção aos trabalhos agrículas na bolanha entre Sumbundo e Ualicunda, causando 1 ferido à população

Janeiro de 1967

Dia 02 – Chegada a Contuboel da Secção de Quarteis da CCaç 1500, que os rendeu no sector.

Em 9 de Janeiro de 1967, foi rendida no subsector de Contuboel pela CCaç 1500, recolhendo em 14 de Janeiro de 1967 a Bissau, a fim de aguardar o embarque

A Companhia de Caçadores teve duas baixas por ferimentos em combate, o Capitão Gonçalves da Costa e o Soldado Pereira da Silva.

Dos seus militares foram louvados 1 Oficial, 1 Sargento, 6 Furrieis, 9 Cabos e 16 Soldados, tendo os louvores sido atribuídos pelo Comandante da CCaç 800, do BCav 757, BCav 705 e Agrupamento 24.


Fur Mil Trms Inf
Companhia de Caçadores nº 5, Gatos Pretos
CTIGuiné/Nova Lamego e Canjadude
02/06/1968 a 02/06/1970
__________

Notas de vb:

1. artigos relacionados em

25 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2582: Notas de leitura (9): Cristóvão Aguiar, um escritor marcado pela guerra colonial (Beja Santos)

25 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2580: Notas de leitura (8): Braço Tatuado-Retalhos da Guerra Colonial, de Cristóvão Aguiar (Victor Dores / Amaro Rodrigues)

2. Cristóvão de Aguiar nasceu na ilha de São Miguel em 1940. Frequentou Filologia Germânica, em Coimbra, curso que interrompeu para tirar o Curso de Oficiais Milicianos (COM).

Em 1965 partiu para a Guiné, deixando publicado o livro de poemas, Mãos Vazias. Regressado em 1967, concluiu o curso, leccionou em Leiria e regressou a Coimbra para apresentar a sua tese de licenciatura, O Puritanismo e a Letra Escarlate.

Foi redactor da revista Vértice e colaborador, depois do 25 de Abril, da Emissora Nacional com a rubrica "Revista da Imprensa Regional" e leitor de Língua Inglesa na Faculdade de Ciências e Tecnologias da Universidade de Coimbra.

A experiência da guerra forneceu-lhe material para um livro, incluído inicialmente em Ciclone de Setembro (1985), de que era uma das partes, e autonomizado mais tarde com o título O Braço Tatuado (1990) e que reeditou em nova versão.

Da sua obra, por diversas vezes premiada destacamos: Raiz Comovida I - A Semente e a Seiva (1978), Prémio Ricardo Malheiros da Academia das Ciências de Lisboa, Relação de Bordo I - Diário ou nem Tanto ou talvez Muito Mais (1964-1988), Grande Prémio de Literatura Biográfica da APE/CMP, Raiz Comovida: Trilogia Romanesca (2003), Trasfega - Casos e Contos (2003), Prémio Literário Miguel Torga/Cidade de Coimbra e Nova Relação de Bordo - Diário ou nem Tanto ou talvez Muito Mais (2004) e Marilha (2005), os quatro últimos publicados na Dom Quixote.

Em Setembro de 2001 foi agraciado pelo presidente da República com o grau de Comendador da Ordem Infante Dom Henrique.

Texto extraído das Publicações D. Quixote. Com a devida vénia.


Postado por Luís Graça at 22:34

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

"Cães Letrados" é o novo livro de contos de Cristóvão de Aguiar, com desenhos de André Caetano. Editora Calendário - 2008.

No dia 6 de Dezembro, pelas 17 h, na FNAC de Coimbra, é apresentado o livro de Cristóvão Aguiar, "Cães Letrados", pela escritora Leocádia Regalo.
INCLUI OS CONTOS: "GIRAFA" e "CÃES UNIVERSITÁRIOS".
"Um dia aconselhou-me. Sempre que eu quisesse um cão idóneo que o fosse adoptar entre a família dos vadios de primeira geração. Só estes possuíam capacidade de ser amigos de veras, dar tudo pelo dono que o elegera: da dentuça arregaçada, num sorriso de aviso à navegação, à meiguice de um lamber de mãos, passando por um roçar macio por entre as pernas…"

1.ª Edição: Novembro de 2008
Execução: ROCHA/artes gráficas, lda.
Depósito Legal: 285444/08
ISBN: 978-972-8985-29-5

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

II Concentração Internacional Porsche Fans Portugal no concelho do Sabugal. 29 e 30 de Novembro de 2008.


«A vida é feita de nadas: de grandes serras paradas à espera de movimento» (Miguel Torga)

A II Concentração Internacional Porsche Fans Portugal organizada pelo Porsche Fans Portugal vai percorrer o concelho do Sabugal no fim-de-semana de 29 e 30 de Novembro.
Os participantes jantar, a primeira refeição em terras raianas, está marcado para o RaiHotel seguido de um passeio a pé pela noite sabugalense.
No sábado a concentração está marcada para às 10 horas no Largo do Castelo do Sabugal com um briefing para todos os participantes seguido de uma recepção e boas-vindas por um representante da Câmara Municipal do Sabugal.
Às 11 horas a caravana parte em direcção ao complexo das Termas do Cró estando prevista uma breve paragem para visita ao local. O passeio continua em direcção a Ruivós com paragem para um Porto de Honra na sede da Associação dos Amigos local.
A Aldeia Histórica de Vilar Maior é a paragem seguinte com visita ao Museu e Igreja Matriz. O almoço está marcado para o Restaurante «Beto Martins» no Soito.
Às 15 horas será dada a partida para o primeiro carro da Prova de Regularidade que irá unir as Praças de Touros do Soito e de Aldeia da Ponte.
Após o reagrupamento de todos os participantes será tempo de rumar à Sacaparte para disputar uma prova de Slalom no parque de estacionamento com entrada livre.
No final um pequeno pulo até Espanha onde a caravana será recebida pelo Alcalde de La Albergueria de Argañan e presenteada com uns petiscos à moda espanhola.
O jantar está marcado para o Restaurante Robalo (Sabugal) com entrega de prémios (colaboração da Habisabugal) relativa à prova de regularidade e slalom. A noite será livre para passear pelo Sabugal.
No domingo, 30 de Novembro, a caravana sairá do RaiHotel às 10 horas com destino a à aldeia acastelada de Vila do Touro. A comitiva fará uma visita ao miradouro da capela da Senhora do Mercado (séc. XIV) e portal do Castelo de Vila do Touro.
Saída em direcção a Águas Belas e descida pelas belas paisagens da encosta em direcção a Quarta-feira no sopé do imponente Monte de São Cornélio com paragem para um pequeno passeio a pé pela aldeia e visita à queijaria tradicional local.
E é chegada a hora de subir até à Aldeia Histórica de Sortelha onde os participantes serão recebidos para um Porto de Honra com visita ao Castelo Medieval finalizando, assim, a passagem pelos cinco castelos da raia sabugalense.
Os Porsche (e os Ferrari) rumam, de seguida, ao Sabugal fazendo uma passagem de agradecimento e despedida pelas ruas principais da sede do concelho seguindo depois em direcção a ao Viveiro das Trutas de Quadrazais para onde está marcado o almoço de domingo.
Após a refeição será feita uma distribuição de lembranças e o encerramento da II Concentração Internacional Porsche Fans Portugal e o regresso a casa de todos os participantes.
A título de curiosidade podemos acrescentar que a poucos dias do fecho das inscrições os espanhóis do TodoPorsche Clube de Madrid tinha confirmados 14 Porsches e quatro Ferraris e o SoloPorsche de Madrid um Porsche.
Organização
Porsche Fans Portugal
As inscrições podem ser feitas na página oficial do Porsche Fans Clube Portugal:
http://www.porschefansportugal.net/eventos-porsche-fans-portugal-f16/ii-concentracao-i-porsche-fans-29-30-nov-sabugal-t1543.htm
Capeia Arraiana (media partner): http://capeiaarraiana.wordpress.com

sábado, 15 de novembro de 2008

Uma Lança na América, Luís Aguiar-Conraria, Público, Sexta, 14 de Novembro de 2008










Em Fevereiro, Pacheco Pereira escrevia na revista Sábado que Obama era um “produto da fábrica de plástico”, “politicamente correcto na cor, nem muito preto, nem muito branco”. Admito que, para padrões portugueses e brasileiros, Obama seja considerado mulato. No entanto, para padrões norte-americanos, Obama é negro. Se Obama tem a cor certa, é difícil entender como conseguiram os anteriores 43 presidentes ser eleitos com a cor errada. Na realidade, Barack Hussein Obama não só tinha a cor errada como também tinha o nome errado. Negar isto é desconhecer a realidade. Nos Estados Unidos, a probabilidade de um negro estar preso é oito vezes maior do que a de um branco, a probabilidade de estar desempregado é o dobro e os que estão empregados ganham salários muito mais baixos. Claro que podemos e devemos perguntar se o racismo explica tudo ou se também devemos apontar o dedo à população negra.

Em 2004, Marianne Bertrand e Sendhil Mullainathan levantaram um pouco o véu sobre esta questão, conduzindo uma experiência de campo. Marianne e Sendhil enviaram mais de 5000 currículos vitae falsos como resposta a 1300 anúncios de emprego. A alguns currículos deram nomes tipicamente “brancos”, como Emily e Greg, enquanto os outros ficavam com nomes tipicamente “negros”, como Jamal ou Lakisha. Sem surpresa, concluíram que um candidato negro com exactamente as mesmas qualificações profissionais e académicas que um branco tem muito mais dificuldades em encontrar emprego. Verificaram também que quanto mais qualificada a profissão a concurso maior a discriminação.

Os professores Roland Fryer, Jacob Goeree e Charles Holt levaram a cabo um jogo que ilustra as causas e consequências de tais injustiças. Repartiram os alunos entre empregadores, trabalhadores verdes e trabalhadores roxos. Cada trabalhador começa cada round com um nível de educação zero e tem a opção de comprar, ou não, educação. Os custos dessa compra variam de trabalhador para trabalhador e de forma aleatória. De seguida, cada trabalhador faz rolar dois dados de seis faces. Com base nos dados, é-lhe atribuída uma classificação. Quem tiver adquirido educação tem 25% de hipóteses de ter nota alta, 50% de ter nota intermédia e 25% de ter nota baixa. Para quem não investiu, as probabilidades são de 3, 28 e 69%, respectivamente. Finalmente, o empregador decide se contrata o trabalhador ou não. No entanto, apenas observa duas variáveis: a cor do trabalhador e o resultado do teste. O empregador ganha dinheiro se contratar alguém com educação e perde se contratar alguém sem educação. O procedimento é repetido 20 vezes. A única constante ao longo dos 20 rounds é a cor de cada trabalhador.

Numa dessas experiências, por mero acaso, os custos do investimento em educação foram maiores para os trabalhadores roxos nos três primeiros rounds. Esses custos acrescidos induziram estes trabalhadores a investir menos. A partir do quarto round, os empregadores deixaram de contratar trabalhadores roxos, enquanto os trabalhadores verdes eram quase sempre contratados. De nada servia aos roxos investirem em educação. Eram pura e simplesmente rejeitados. No fim do jogo, os ânimos estavam exaltados. Os roxos queixavam-se de discriminação. Os empregadores acusavam os trabalhadores roxos de serem de pouca confiança e de não investirem em educação. Um dos roxos retorquiu que deixou de gastar dinheiro a adquiri-la, porque raramente era contratado.

Ou seja, num ambiente absolutamente controlado, em que verdes e roxos partiram em igualdade e em que no início de cada round todos voltavam a estar nas mesmas circunstâncias, rapidamente se criou uma sociedade segregacionista com trabalhadores verdes educados e a trabalhar e com trabalhadores roxos, sem instrução, revoltados e desempregados.

Se isto acontece neste ambiente, imagine-se a realidade, com condições desiguais causadas por séculos de História de discriminação racial. É um ciclo vicioso da baixa instrução, baixos salários, elevado desemprego e alta criminalidade. A vitória de Barack Obama é notável e é uma estultícia desvalorizá-la. Felizmente que os americanos perceberam isso e não desperdiçaram a oportunidade de fazer História, dando um passo para uma América pós-racial.

sábado, 8 de novembro de 2008

APE: Grande Prémio de Literatura Biográfica para o livro "Diário Quase Completo", de João Bigotte Chorão.

O Grande Prémio de Literatura Biográfica da Associação Portuguesa de Escritores (APE) e da Câmara Municipal de Castelo Branco foi atribuído ao livro "Diário Quase Completo", de João Bigotte Chorão, anunciou hoje a APE em comunicado.

A decisão de distinguir esta obra, publicada pela Imprensa Nacional - Casa da Moeda, foi tomada por maioria de um júri presidido por José Correia Tavares (vice-presidente da APE) e constituído pelo professor universitário Artur Anselmo, a vice-reitora da Universidade de Coimbra, Cristina Robalo Cordeiro, e professora e ensaísta Clara Rocha (que votou na obra "Raul Proença - Vols. I e II", de António Reis).

No valor de 5.000 euros e patrocinado pela Câmara de Castelo Branco, o prémio, que se pretende bienal, abrangeu excepcionalmente um período mais alargado, entre 2000 e 2007, e admitiu a concurso 85 obras de escritores portugueses, nas áreas da biografia e autobiografia, memórias e diários.

Nas quatro anteriores edições, o Grande Prémio de Literatura Biográfica da APE foi atribuído a obras de Maria Teresa Saavedra, Eduardo Prado Coelho, Norberto Cunha e Cristóvão de Aguiar.

ANC.
Lusa/fim
João Bigotte Chorão:
Data de Nascimento: 18 de Outubro de 1933
Naturalidade: São Vicente (Guarda), Portugal

Alguns dados biográficos

João Bigotte Chorão, tido como um "especialista" de Camilo (a quem consagrou muitos escritos), na sua crítica e no seu ensaísmo - definidos já como "humanistas" - privilegia valores estéticos, não desligados porém de valores éticos. O seu Diário, pela contenção verbal e tensão interior, tem sido aproximado do de Miguel Torga, de quem, aliás, se confessa devedor.

Artigos, crónicas e ensaios seus estão, muitos deles, dispersos por jornais e revistas.

Colaborou com numerosos artigos em enciclopédias e dicionários de literatura e evocou autores vários em livros in memoriam.

Escreveu prefácios ou posfácios para obras de Leopardi, Garrett, Camilo, Eça, Trindade Coelho, João de Araújo Correia, Fernanda de Castro, Francisco Costa, Tomaz de Figueiredo, Domingos Monteiro, João Mendes, Couto Viana, Fernando de Paços, Júlio Pomar e Camilo de Araújo Correia.

domingo, 2 de novembro de 2008

13.ª Festa do Livro Coimbra. Outra iniciativa de Adelino Castro e a Calendário das Letras.









Preços em baixa
deixam livro em alta

Há de tudo um pouco. Obras que venderam muitos exemplares, outras que ficaram aquém das expectativas. Livros que foram muito procurados e folheados, outros que se amontoaram nos escaparates sem convencer quem passou pelas livrarias. Agora, estão todos reunidos, desde ontem e durante os 30 dias de Novembro, nas bancas montadas na tenda instalada na Praça da República. Lá podem encontrar-se livros infantis, mas também especializados. Há romances, policiais, biografias e muito mais.
Os preços são bastante convidativos. Com 75 cêntimos já se pode levar um livro para casa, mas há edições – «obras especiais, álbuns e livros mais recentes que têm alguma promoção» - que ultrapassam os 10 euros. A Festa do Livro de Coimbra, que já vai na 13.a edição, foi ontem inaugurada. Recorde-se que esta iniciativa se realizou, pela primeira vez, em 1995, nas instalações do ITAP (Instituto Técnico Artístico e Profissional) de Coimbra, mas também já teve lugar na Casa Municipal da Cultura e no Edifício Chiado, antes de se fixar na Praça da República.
Organizado pela empresa Calendário de Letras, o certame apresenta, este ano, uma novidade. Em virtude de se terem registado fenómenos de concentração editorial, que levaram ao desaparecimento de muitas pequenas e médias editoras, integradas em grandes grupos, a Festa do Livro de Coimbra exibe mais de 100 mil livros. Muitos destes - descatalogados, em fim de edição ou mesmo em saldo - deixaram de ter espaço disponível nas livrarias tradicionais e nas grandes superfícies livreiras.
Aberta todos os dias, entre as 10h00 e as 20h00, a Festa do Livro pretende, segundo Manuela Castro, da empresa organizadora, continuar a ter «enorme sucesso». «Neste espaço, o livro está em festa, com preços baixos, alguns de saldo mesmo e com promoções», acrescentou, antes de reforçar que «as pessoas encontram aqui o que já não encontram nas livrarias», pois, reafirmou, «ao que se edita, neste momento, em Portugal não há espaço compatível para manter, por muito tempo, estes livros e estas novidades nas livrarias».
Assegurando que os visitantes vão encontrar livros que «nem tiveram a oportunidade de conhecer e ver nos escaparates», Manuela Castro assegurou existirem «livros para todos os preços e bolsas». «Já que existe a crise, estes espaços têm, cada vez mais, razão de ter êxito», assumiu, antes de revelar: «Penso que os preços são discutíveis. O livro, por vezes, é muito barato quando comparado com outras coisas». A perspectiva para a edição 2008 é «positiva».
«Coimbra foi a primeira cidade portuguesa a organizar este tipo de espaço de livros, que, hoje, muita gente faz», disse Manuela Castro, afirmando que é «uma possibilidade de estudantes e jovens chegarem aqui e conseguirem literaturas por baixo preço». Por fim, a organizadora do evento revelou que, «cada vez mais, temos razão em fazer estas iniciativas, porque as pessoas vão ficar com livros que, de outra maneira, ao fim de dois anos, os editores tinham nos armazéns e faziam desaparecer».

João Henriques/ Diário de Coimbra 02-11-2008

Cyrano de Bergerac

Cyrano de Bergerac
Eugénio Macedo - 1995

TANTO MAR

A Cristóvão de Aguiar, junto
do qual este poema começou a nascer.

Atlântico até onde chega o olhar.
E o resto é lava
e flores.
Não há palavra
com tanto mar
como a palavra Açores.

Manuel Alegre
Pico 27.07.2006