sexta-feira, 3 de julho de 2009

Diário Económico. 03-06-2009. Entrevista de Aguiar-Conraria.






"Devíamos baixar os impostos"
sexta-feira, 03-07-2009
Diário Económico

"Devíamos baixar os impostos"

O especialista em macroeconomia não culpabiliza este Governo, mas identifica pelo menos um erro crasso.

Margarida Peixoto margarida.peixoto@economico.pt

Luís Aguiar-Conraria, professor na Universidade do Minho, identifica os principais problemas da economia portuguesa e aponta alguns caminhos para a saída da crise.

DE- Como deverá ser o plano de saída da crise do próximo Governo?

AC- Portugal vive duas crises: a internacional, que começou no ano passado, e a nacional, que vinha desde 2001. As medidas para sair de uma crise, agravam a outra.

DE- Pode dar um exemplo?

AC- Todos os grandes investimentos do Estado - TGV, aeroporto, auto-estradas -, são a receita típica macroeconómica: em períodos de crise, com taxas de juro muito baixas, aumenta-se o investimento público. O problema desta solução é que vai agravar a crise nacional.

DE- Porquê?

AC- Se não existisse a crise internacional, Portugal precisava de investir fortemente em sectores de bens transaccionáveis, para exportar mais e importar menos. Com as grandes obras, aposta em sectores que não concorrem com o exterior.

DE- Em que é que o país se devia concentrar?

AC- Devíamos guardar o que temos para solidariedade, garantindo o acesso ao subsídio de desemprego para todos. Não podemos resolver a crise internacional, por isso devemo-nos preocupar com a nacional e evitar que milhares de pessoas entrem na pobreza. Em vez dos grandes investimentos públicos, devíamos praticar uma política expansionista: baixar os impostos, para aumentar o rendimento disponível.

DE- Mas se as pessoas pouparem mais, o consumo não cresce...

AC- É verdade. Mas se baixar impostos apenas aos mais pobres isso já não acontece. Por exemplo, criar um escalão negativo de IRS, para salários muito baixos em que as pessoas sejam subsidiadas pelo Estado, aumenta o consumo. Outra hipótese, adoptada no Reino Unido, é baixar o IVA apenas por um ano: para usufruir da baixa do IVA, os consumidores gastam.

DE- O que se pode fazer do lado das empresas?

AC- O IVA já tem um efeito: podem vender os produtos mais baratos, ou aumentar as margens de lucro. De resto, não há muitas mais possibilidades. As taxas de juro já estão o mais baixo possível.

- Quais são os principais desafios da próxima legislatura?

- O problema microeconómico é a falta de produtividade. O desafio macroeconómico é o brutal desequilíbrio externo, conjugado com o desemprego e o défice elevado. Não tenho a receita para isto. Sempre que penso numa política adequada para resolver uma destas frentes, parece-me que prejudica as outras. Eu não gostava de ser político.

- Este Governo deixou uma herança pesada?

- A herança é pesada. Mas se fosse outro Governo, também seria. Não o culpabilizo. Este Governo fez algumas reformas que podem ser positivas, como a da Administração Pública, consoante os resultados da implementação.

- E houve algum erro crasso?

- O erro mais óbvio foi ter-se avançado para o TGV. Não encontro nenhuma racionalidade económica.

Luís Aguiar-Conraria
Professor Auxiliar
Departamento de Economia
Universidade do Minho
http://aguiarconraria.googlepages.com/

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Cyrano de Bergerac

Cyrano de Bergerac
Eugénio Macedo - 1995

TANTO MAR

A Cristóvão de Aguiar, junto
do qual este poema começou a nascer.

Atlântico até onde chega o olhar.
E o resto é lava
e flores.
Não há palavra
com tanto mar
como a palavra Açores.

Manuel Alegre
Pico 27.07.2006